
– André Trigueiro: A expressão “ecologia” foi cunhada na Alemanha apenas nove anos depois de a primeira edição de o “Livro dos Espíritos” ter sido lançada na França , no inspiradíssimo século XIX do evolucionismo, do positivismo, do comunismo, da psicanálise, e de outras correntes de pensamento referenciais para parcela expressiva da humanidade. Espiritismo e ecologia explicam, cada qual ao seu modo, um universo sistêmico e interligado, o uso racional dos recursos naturais baseado no princípio da necessidade – e não da opulência -, uma nova ética solidária que leve em conta os interesses de todos e não de uma minoria, o respeito a todos os seres viventes. Espíritas e ecologistas também reconhecem a existência de mecanismos de autoproteção da Terra, embora expliquem isso de formas distintas. E estudam os efeitos colaterais da poluição nos dois planos da vida: enquanto a ecologia investiga o impacto dos poluentes na matéria (ar, água, solo), o espiritismo desdobra-se na investigação dos impactos de outros gêneros de poluentes (formas-pensamento, miasmas, etc) no campo sutil, no plano atral, também chamado de psicosfera.
– Revista Época: Como a ética religiosa pode ajudar a preservar a natureza?
– André Trigueiro: Onde se aceita a idéia de Deus, a natureza é entendida como obra divina, onde o sagrado se manifesta de forma rica e exuberante. Depredar a natureza significa macular um sistema em equilíbrio que dispõe de tudo o que nos é necessário para que possamos viver bem. De uns tempos para cá, diversas tradições vem descobrindo a riqueza da teologia ambiental para explicar, cada qual a seu modo, como as leis que regem a vida e o universo precisam ser respeitadas em favor de nós mesmos. Não estamos desconectados do meio que nos cerca. Na verdade, essa ligação é intrínseca e visceral. Se equilíbrio é sinônimo de sustentabilidade, quem busca o equilíbrio através da religião precisa ser sustentável.
– Revista Época: Você acha que se as pessoas tivessem mais espiritualidade, cuidariam melhor do ambiente?
– André Trigueiro: Quem cuida do lado espiritual – e realiza essa busca solitária e persistente de Deus em si mesmo – tende a ser menos dependente dos bens materiais – portanto menos consumista – e mais atento ao legado, aos impactos de ordem material e moral de sua passagem por este planeta. Mas cada vivência espiritual é pessoal e intransferível. A espiritualidade contém todas as religiões, mas uma única religião não contém toda a espiritualidade. A religião também não salva ninguém, mas antes, a disposição de cada um em ser alguém melhor, mais solidário e amoroso. Também é verdade que muita gente que não acredita em Deus – ou na vida após a morte – realiza importantes trabalhos na área da sustentabilidade. Não importa em que se crê, mas naquilo que se faz de verdade em prol dos outros e do planeta que nos acolhe.
– Revista Época: Como você começou a relacionar a espiritualidade com a preservação ambiental?
– André Trigueiro: Há seis anos, fui convidado para fazer uma palestra em um centro espírita do Rio de Janeiro pelo saudoso escritor,

Fonte: Revista Época – setembro de 2009 – André Trigueiro, autor do livro Espiritismo e Ecologia (editora FEB).
“Se equilíbrio é sinônimo de sustentabilidade, quem busca o equilíbrio através da religião precisa ser sustentável”
André Trigueiro
Publicado na coluna da Liga Espírita Pelotense no dia 01 de Julho de 2012 – JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ